A massa imigratória ilegal
A onda massiva da imigração (ilegal) é uma questão de direitos humanos, e esse ponto é incontroverso. Todavia, a imigração (ilegal), como um fenômeno mundial, mas em particular no continente Europeu, tem outros ângulos de observação e que não são, necessariamente, contra o ponto-de-vista humanitário e que, aparentemente, não sendo bem avaliados, estão produzindo efeitos contrários ao humanitarismo.
Assim, a descontrolada imigração ilegal, que se soma à legal, descortina uma nova realidade cultural no plano territorial dos Estados que deve ser lembrada, sob pena de se fazer lembrar da pior maneira possível, através de conflitos sociais e reacionarismos políticos dentro da própria organização do Estado.
De fato, as massas migratórias que se movem para um continente pequeno e multicultural como o europeu podem ser comparados aos movimentos das massas de ar de características contrárias em um dado território.
O volume imigratório mostra-se, nos diversos Estados membros da União Europeia, homogênea e se move impermeável, não aderindo aos valores culturais dos territórios que ocupam, nem é simples e rápido o processo de equilíbrio cultural, de modo que o comportamento das massas migratórias no território Europeu é como o deslocamento de uma massa de ar fria que vai de encontro a uma massa de ar quente. O resultado desse encontro é bem conhecido: Uma linha de instabilidade se constitui, criando uma rampa de mau tempo.
Na noite de 7 de Novembro, um mau tempo cultural passou por Amsterdã.
Existe na capital neerlandesa uma significativa comunidade muçulmana; portanto, uma massa cultural de características próprias e diferentes daquelas que são peculiares ao território onde se encontra, os Países Baixos, e, por conseguinte, suas autoridades “territoriais”.
Nesse contexto, certamente, não fosse Amsterdã uma cidade com uma grande comunidade mulçumana, visitantes israelenses (compondo uma massa cultural com características antagônicas) não se animariam a fazer provocações islamofóbicas tendo por pano de fundo a guerra na Palestina, pois, afinal, neerlandeses seriam totalmente alheios àquelas provocações que, ao cabo, não lhes dizem respeito; por outro lado, os israelenses não se tornariam, consequentemente, vítimas do violento contra-ataque antissemitista de mulçumanos.
As autoridades territoriais neerlandesas foram surpreendidas; pelo prisma unicamente do aspecto territorial dos Países Baixos, não havia mesmo com o que se alertar, pois era apenas um evento corriqueiro em Amsterdã, onde teria lugar uma partida de football pela Liga Europeia entre o local Ajax e o visitante Maccabi Tel Aviv. Porém, Amsterdã tem agora um aspecto cultural distinto de seu território, a grande massa cultural muçulmana, de modo que o deslocamento para aquele território de massa com característica oposta vai causar conflito.
O território neerlandês foi palco de um proxy conflito entre árabes e israelenses.
A Noite dos Vidros Quebrados
O evento teve uma conotação política internacional histórica que trouxe lembranças amargas para o Reino das Terras Baixas. Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 75% dos judeus neerlandeses vivendo em Amsterdã foram mortos no Holocausto, o maior da Europa Ocidental, o que se denominou parte do pogrom (massacre étnico de judeus, na Rússia ou Europa Oriental).
Por isso, Primeiro-Ministro israelense, Netanyahu, referiu-se ao episódio como kristallnacht das ruas de Amsterdã, comparando-o à Noite dos Vidros Quebrados (ou Massacre de Novembro), entre 9 e 10 de 1938, na Alemanha nazista.
Há não muito tempo, o Primeiro-Ministro neerlandês Mark Rutte (o Mark-Teflon, porque os escândalos políticos de seu governo nunca “grudaram nele”), no gabinete desde 2010, renunciou em Julho de 2023, justamente, por ser incapaz de implantar, juridicamente, uma política de contenção migratória nos Países Baixos.
A visão unilateral da imigração ilegal apenas como uma questão humanitária, sem atentar-se aos efeitos da existência de grandes massas culturais em territórios com distinta cultura, tem produzido, no longo prazo, o fortalecimento de reações adversas extremas, francamente hostis ao humanitarismo, como a do político ultradireita Geert Wilders, o qual, declaradamente anti-islâmico, refere-se ao islamismo como “ideologia de uma cultura retardada” e aos marroquinos como “escória” (existe forte imigração ilegal marroquina nos Países Baixos).
Imigração Ilegal e seus efeitos na Área Schengen
Agora, 11 de Novembro, os Países Baixos acabam de se unir a outros Estados Membros da União Europeia, anunciando que estarão temporariamente introduzindo controle de fronteira terrestre, de acordo com o permitido pelo Código de Fronteiras Schengen, a partir de 9 de Dezembro e com previsão de duração de seis meses.
As restrições a serem adotadas pelos Países Baixos em suas fronteiras terrestres afetarão o trânsito de cidadãos de países vizinhos, que também pertencem à EU´s Schengen border-free zone, tais como Bélgica e Alemanha.
Atualmente, Noruega (12-11-2024/01-12-2024), Áustria (16-10-2024/15-04-2025), Alemanha (16-09-2024/15-03-2025), Dinamarca (12-11-2024/11-05-2025), França (01-11-2024/30-04-2025), Suécia (12/11/2024/11-05-2025), Eslovênia (22-06-2024/21-12-2024) e a Itália (19-06-2024/18-12-2024).
O objetivo daqueles membros da União Europeia é a contenção de imigração ilegal. Logo, o resultado é que a imigração ilegal começa a interferir nos ideais comunitários traçados em 1951 pelo plano Schuman.
Como se resolve essa equação?
A China usa da sinicização, política pela qual a identidade religiosa ou cultural não pode ser antagônica ao do Estado. Em outras palavras, para alguém estar na China, precisa ser e agir como um chinês e, consequentemente, aderir à agenda política do Estado. Logo, em Beijing, a massa cultural é uniforme e, então, um grupo muçulmano ou israelense de passagem por lá não seria motivo de mau tempo cultural. Afinal, a China não é sensível nem à causa da Palestina, nem a dos Israelenses.
Os Estados Unidos votaram em um Presidente que ontem advertiu os emigrantes (ilegais) a “fazerem as malas rapidamente”.
Assim como a questão climática, a questão imigratória (ilegal) na Europa carece de uma solução definitiva e conciliatória dos interesses envolvidos. No longo prazo, parece que o movimento imigratório ilegal é forçado como uma técnica de domínio, controle ocidental e, por fim, guerra.
Qual a diferença, em termos humanitários, entre a sinicização e o trumpismo? Apenas de técnica, porque ambas derivam de uma doutrina comum contrária ao que se consagra como direitos humanos de refugiados imigrantes.
O caso do soldado alemão Franco A.
O problema da imigração na Europa traz à lembrança um inusitado fato acontecido na Alemanha, em 2016.
Um soldado alemão (Franco A., 32 anos), após pintar de preto sua barba ruiva e escurecer a pele do rosto clara com maquiagem, fez-se passar por refugiado sírio na fronteira da Alemanha, sem saber falar uma palavra em árabe, apenas gesticulando e falando francês. Assim, com o nome David Benjamin, o soldado foi admitido na fronteira, recebeu uma identidade de refugiado e uma ajuda de custo humanitária alemã.
Em 2017, casualmente, Franco A. foi preso no Aeroporto de Viana, quando tentava pegar uma arma que havia escondido no banheiro; conduzido ao Estado alemão, descobriu-se que suas impressões digitais correspondiam a duas identidades diferentes: Alemã e síria…
O soldado foi condenado (a cinco anos e meio de prisão, em Julho de 2022) pela acusação de ser um neonazista e de estar planejando um atentado terrorista de extrema direita contra as autoridades constituídas germânicas, nada obstante Franco A. tenha se defendido alegando que não agiu com intenção de planejar um ataque terrorista, mas que havia se passado por árabe com objetivo de provar a distorção do sistema de imigração alemã.